Baía do Sol 1: Apresentação

A vila Baía do Sol está situada a leste da ilha da Mosqueiro, um distrito do município de Belém, na região costeira do estado do Pará. Lá estou desde 1988. Considero o meu laboratório de vida mais importante, praticamente vivo dentro dele e já aprendi muita coisa e continuo avançando neste aprendizado.  Nesta vila o meu cantinho foi nos últimos anos batizado carinhosamente de Seringal Andiroba Forest. A partir dele, tendo em vista a minha formação em geologia, e em parte como consequência, de andarilho da vida, passei a observar o entorno e o todo sob o olhar geológico, mas também a enveredar alguns passos na botânica e no comportamento humano, que vão nos surpreendendo a cada dia. Foi a partir desta experiência que tomei a decisão de escrever sobre a minha vivência e minhas descobertas na Baía do Sol. Vai ser uma série de pequenos textos ilustrados sem data estabelecida para serem publicados, mas que brotarão conforme a vontade de extravasar o conhecimento, uma necessidade pessoal, que talvez possa contribuir aos corajosos leitores.

Vista da orla da vila Baía do Sol em julho de 1994. Logo a  frente o substrato rochoso exposto, que sustenta temporariamente a areia da praia, representado pelo horizonte mosqueado e ao fundo a praia propriamente dita encosta na falésia esculpida no perfil laterítico imaturo sobreposto por latossolos amarelos. À esquerda blocos de arenitos ferruginizados, hoje ocupados pela rampa. Imagem do arquivo pessoal (A146-14).

Minha chegada a Baía do Sol foi quase por acaso. Como professor do Curso de Geologia e do Programa de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica da UFPA, com vivência em rochas lateríticas, materiais não apreciados pela maioria dos geólogos e estudantes de geologia, precisava introduzir em atividades de campo dois empolgados estudantes de geologia, então bolsistas de Iniciação Científica sob minha orientação, Rômulo Simões Angélica (professor da Faculdade de Geologia e do Programa de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica, além de pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade Federal do Pará e pesquisador do CNPQ) e Maurício da Silva Borges (professor da Faculdade de Geologia da UFPA). A vila, suas praias e falésias foram amor a primeira vista,  que perdura até hoje, e acho que vai mais além.

Em 1988 em terreno de loteamento montei uma casa de madeira (Kit-Casa da Casema, que resiste até hoje, portanto com 29 anos de idade). Era  então uma pequena área de pasto e serraria abandonada, que no período chuvoso se transformava um brejo rico em formigas de fogo e muito carapanã. Um convite ao abandono.  A Baía do Sol, parecia mais a Baía da Chuva. … mas ela é muito fotogênica. Minha primeira preocupação foi vencer a máxima “quem compra um sítio tem duas alegrias: uma quando compra e outra quando vende”. Estou resistindo e ainda não penso em vender até hoje, 14.12.2017. Segunda preocupação foi como eliminar a praga de formiga de fogo que afugentava meus filhos, mulher e as visitas. E isto aconteceu com revegetação com sementes da praia. As sementes de andiroba (Carapa guianensis) e de seringueira (Hevea brasiliensis) após muita insistência fizeram a festa,  brotaram e cresceram e se multiplicaram e deram origem ao atual nome Seringal Andiroba Forest. Detalhes sobre esse longo e persistente trabalho serão contados em pequenos textos por vezes ilustrados na série “Baía do Sol” que se seguirão. Tenho um bocado de história, muitas imagens e causos a contar nestes mais 30 anos passados pela Baía do Sol. Aguardem e acompanhem, acho que vai valer a pena. Espero não desanimar.

Vista parcial da casa sede do Seringal Andiroba Forest em abril de 1992. Imagem do arquivo pessoal (A141-39).